Introdução ao planejamento de voo

O planejamento de voo é uma etapa muito importante na atividade aérea e quando bem realizada influencia diretamente na melhoria da segurança do voo.

O planejamento dos voos é de responsabilidade dos pilotos em comando da aeronave e devem, obviamente, ser realizados antes do início de cada voo realizado.

Ainda que o planejamento seja feito por um copiloto ou despachante operacional de voo (DOV), caberá ao comandante a sua análise de forma a assegurar a observância do correto procedimento previsto nos normativos vigentes. Assim, o comandante confirmará os dados informados no formulário de plano de voo, que ficará documentado junto às autoridades aeronáuticas, com vistas à melhor performance permitida pela aeronave e à economia desejável, sem prejuízo da segurança de voo.

Para tanto, são disponibilizados alguns recursos (como informações de aeroporto, de meteorologia, programas de envio do plano, publicações de informações aeronáuticas), nas salas de Serviços de Informação Aeronáutica (AIS) localizadas nos principais aeroportos ou em ambientes digitais através dos programas de software presente em ambiente virtual e em dispositivos móveis, como celulares e tablets.

Quais são os pontos a se observar em um planejamento?


O adequado planejamento de um voo aumenta significativamente a segurança da operação. Visto que garante um melhor entendimento ao piloto do voo que será realizado. Portanto, planejar é garantir o conhecimento prévio de todas as informações disponíveis referentes à atividade que se pretende realizar, preparando com antecedência um plano para as condições previstas e alternativas para situações inesperadas.

Atualmente, os pilotos podem utilizar uma variedade de recursos para planejar um voo, incluindo meios analógicos, digitais, sites específicos, aplicativos e o apoio de pessoal qualificado em determinados aeroportos nas chamadas Sala AIS.

As etapas deste processo podem variar conforme o tipo de operação, mas em geral são as seguintes:

  1. análise das informações caracteristicas dos aeródromos envolvidos;
  2. escolha da rota a ser percorrida;
  3. análise da meteorologia atual e prevista nos aeródromos e em rota;
  4. cálculos de performance e peso e balanceamento da aeronave;
  5. preenchimento e envio do formulário de plano de voo e,
  6. conferência da documentação necessária ao voo.

A seguir apresentamos a descrição de cada uma das etapas.


Passo-a-passo

Com relação aos aeródromos envolvidos (partida, destino e alternativa) o piloto deve inteirar-se das características gerais como coordenadas geográficas, elevação do campo, cabeceiras e comprimento da pista, além de tomar conhecimento dos serviços de apoio à atividade aérea disponíveis na localidade. Esta consulta é realizada utilizando-se o Manual de Rotas Aéreas (ROTAER) em papel ou em sua versão online, o ROTAER Digital disponível no site AISWEB.

É importante atentar ao fato que podem existir informações que complementam ou alteram aquelas constantes no ROTAER. Estas informações, de caráter temporário ou permanente, são as Notice to Airman, ou NOTAM. A leitura dos NOTAMs dos aeródromos de partida, destino e alterantiva é indispensável. Exemplos são a exigência de permissão adicional para pousos e decolagens (SLOT), indisponibilidade de combustível no aeroporto ou o fechamento de uma pista devido a obras.

O piloto deve ainda estudar as cartas de aeródromo (ADC, AOC e PDC) e as cartas de saídas e aproximações visuais (VAC) ou por instrumentos (ERC, SID, STAR e IAC). O objetivo é familiarizar-se com os aeródromos, acostumar-se com as taxiways e procedimentos de chegada e saída vigentes, tomando conhecimento também das frequências de comunicação a serem utilizadas.

Deve-se aproveitar para esclarecer dúvidas e buscar detalhes que eventualmente poderiam passar despercebidos na consulta a essas informações durante o voo.


A próximo etapa do planejamento de um voo é a escolha da melhor rota a ser percorrida e para isso o piloto deve analisar o trajeto através das cartas de voo visual (WAC, REA e REH) ou por instrumentos (ENRCL e ENRCH). A visualização de imagens aéreas e mapas rodoviários, atua de maneira complementar às cartas oficias, permitindo melhores referências visuais ao longo do percurso.

Pilotos são livres para escolher a rota que desejar, geralmente sendo aquela de menor distância entre dois pontos. Deve-se, no entanto, garantir a correta interação com corredores visuais, aerovias e espaços aéreos controlados e condicionados ao longo do caminho, o que pode provocar desvios consideráveis. No caso de voos por instrumentos, existe a possibilidade de rotas preferenciais já estarem definidas com o objetivo de padronizar o tráfego aéreo entre os aeródromos envolvidos.

A análise da rota também deve levar em consideração o tipo de terreno sobrevoado e suas implicações (selva, mar, cadeia de montanhas e etc).


A seguir vem a consulta das condições meteorológicas atuais e previstas para os aeródromos e rota escolhida, composta pela leitura de reportes do tipo METAR e TAF, análise de imagens de satélite, cartas de prognósticos (SIGWX), descargas elétricas, ventos, turbulência e formação de gelo em diferentes altitudes, além de imagens de radar meteorológico, conforme disponível. Deve-se permitir que a análise meteorológica resulte em desvios na rota previamente escolhida para evitar condições indesejadas.

Uma vez definida a rota final, os aspectos operacionais da aeronave devem ser analisados. Essa etapa inclui cálculos de performance de decolagem, subida, cruzeiro, descida e pouso conforme dados determinados pelo manual de voo do fabricante, além dos cálculos de peso e balanceamento. Estes cálculos permitirão ao piloto saber, por exemplo, qual a altitude ideal para o voo e se o comprimento de pista disponível nos aeródromos envolvidos é suficiente para pouso e decolagem nas atuais condições de peso da aeronave, pressão e temperatura atmosférica. Para completar o piloto deve ainda realizar cálculos de tempo de voo, consumo e quantidade ideal de combustível para o destino e alternativa, além de analisar o peso e balanceamento da aeronave.


Neste ponto, o piloto já possui todo o conhecimento necessário para formalizar sua intenção de voo através do formulário de plano de voo completo ou simplificado. O preenchimento e envio deste documento à autoridade aeronáutica garante que o voo contará com o apoio dos serviços de tráfego aéreo, como a eventual busca e salvamento caso se acredite que a aeronave tenha sofrido um acidente.


A conferência de toda a documentação necessária ao voo vem a seguir. O piloto precisa verificar se está levando todas as publicações aeronáuticas necessárias (como ROTAER e AIP-BRASIL) e se a aeronave possui todos documentos em ordem e horas disponíveis suficientes antes da próxima manutenção programada, além de não possuir discrepâncias em aberto relatadas em seu diário de bordo.

planejamento pessoal também é parte do processo e, portanto, o piloto deve garantir que suas habilitações e certificado médico encontram-se vigentes, que transporta bagagem suficiente para pelo menos uma noite de estadia no destino (mesmo quando não há previsão de pernoite) e se leva dinheiro para eventuais despesas não planejadas. Planejar descanso e alimentação adequada antes do voo também são boas atitudes para um voo mais seguro.

Para fechar com chave de ouro, em voos cuja tripulação é composta por mais de um piloto, deve-se realizar uma conversa (briefing) para debater as informações analisadas e garantir a coordenação total entre os envolvidos.


Como podemos melhorar

Apesar do acesso relativamente fácil às informações aeronáuticas, a realidade é que pilotos comumente deixam de planejar seus voos conforme descrito acima. É compreensível, afinal há muito o que se fazer ao longo da atividade aérea e nem sempre o relógio joga a favor do profissional.

Ao considerar todos os aspectos envolvidos, os profissionais da aviação conseguem não apenas cumprir as exigências legais, mas também proporcionar operações mais sustentáveis, econômicas e seguras. Assim, o planejamento de voos se destaca como uma atividade indispensável, reforçando o compromisso da aviação com a excelência operacional e a preservação da vida.


Início

Rolar para cima