A responsabilidade do instrutor de voo
Este capitulo tem por objetivo fazer os instrutores de voo refletirem sobre suas atividades, principalmente no que se refere à responsabilidade de cada um no processo de ensino e aprendizagem da arte de voar.
A responsabilidade do instrutor de voo é tremenda, tanto perante seus alunos, como perante a indústria Aeronáutica. Ele será responsável pelos hábitos de voo e conseqüentemente, de modo geral, pela segurança dos seus alunos durante toda a carreira do piloto.
O instrutor deverá ainda zelar pela segurança, não somente dos seus alunos, mas também quanto ao equipamento, propriedades e a vida dos passageiros confiados mais tarde aos cuidados dos mesmos.
As desastrosas conseqüências da negligência ou da incapacidade do instrutor, são evidentes e, no caso dos seus alunos mais tarde se tornarem instrutores, por sua vez, esses resultados serão talvez transmitidos e multiplicados numa extensão imprevisível.
Todo instrutor deve estar consciente de sua responsabilidade e esforçar-se conscienciosamente para instruir cada um dos seus alunos, do modo mais perfeito possível. O problema de preparar o aluno para enfrentar as mais variadas situações que aparecerão na vida do piloto, requer um planejamento cuidadoso e uma técnica infatigável. Cada aluno apresentará um problema diferente de mentalidade e de personalidade, mas todos eles possuem determinada capacidade que precisa ser levada em consideração.
CADA ALUNO
A espécie humana só evolui lentamente. É possível que o ser humano de hoje esteja pensando e agindo de uma forma um pouco diferente do que há um século, porém, o seu cérebro e seus membros não se modificaram materialmente durante todo esse tempo. Embora o raciocínio, as reações nervosas e musculares talvez se tenham acelerado um pouco a fim de se adaptarem às condições modernas, certos instintos elementares e hábitos ficaram inalterados. Com estas premissas em mente, é evidente que o ensino da arte de voar deve ser simplificado no começo, de acordo com o nível intelectual do aluno e ser desenvolvido gradativamente, para corresponder às exigências do voo e às emergências suscetíveis de ocorrerem durante a sua carreira de piloto. Durante este processo serão necessários certos reajustamentos físicos e mentais. A rapidez dessa adaptação depende principalmente da aptidão do aluno, porém, os métodos de treinamento, os conhecimentos, a adaptabilidade, capacidade e técnica do instrutor, bem como do tipo e do estado do equipamento usado, são fatores de grande importância. O progresso do treinamento poderá ser auxiliado por:
- – um estudo e uma análise conscienciosos da arte de instruir, por parte do instrutor.
- – uma técnica de voo perfeita da parte do instrutor e o conhecimento profundo da arte e da ciência do voo.
- – a capacidade e a paciência do instrutor de transmitir os seus conhecimentos ao aluno.
- – a habilidade do instrutor de inspirar ao seu aluno o desejo de voar corretamente.
- – a habilidade do instrutor de inspirar e conseguir a confiança absoluta dos seus alunos.
- – a habilidade do instrutor de convencer o aluno de que uma instrução perfeita não é apenas necessária, mas altamente desejável.
- – o uso dos métodos mais perfeitos de ensino, afim de que seja transmitido e assimilado dentro de um determinado período, o máximo de instrução.
- uma seqüência apropriada do treinamento, de forma que cada manobra leve o aluno, naturalmente, à manobra subseqüente.
- uma análise exata e cuidadosa das reações do aluno.
- a manutenção por parte do instrutor, de um elevado padrão de técnica de voo para ele próprio e sua insistência em exigir o mesmo padrão dos seus alunos.
Ao analisar um aluno, o instrutor deverá procurar quaisquer inibições escondidas, receios e apreensões errôneas e tentar eliminá-las. Ele deve engenhar métodos e exercícios que melhor se adaptem a cada aluno. Não é possível padronizar por completo o tempo e os métodos de treinamento. Apenas o programa, certas regras, os detalhes das manobras e certos exercícios provados podem ser assentados definitivamente.
Os seus deveres exigem do instrutor de voo não somente que ele possua um alto grau de conhecimentos teóricos, mas que possa também demonstrar praticamente e de um modo perfeito, esses conhecimentos. Ele não deve somente aperfeiçoar a própria técnica de voo, mas também deve saber as finalidades da mesma. Isto exige saber analisar e sintetizar, isto é, ele deve saber decompor em seus elementos qualquer ação ou manobra e explicar as suas causas e efeitos individuais e demonstrar claramente como cada parcela se ajusta no todo, indicando a sua relativa importância e situação.
O instrutor deve ter uma personalidade que se imponha, sem contudo ofender; ele deve inspirar confiança, respeito e deve saber quando elogiar e quando censurar.
Ele deve prontamente sentir quaisquer reações mentais e físicas indesejáveis da parte do aluno.
O instrutor deve saber adaptar a sua personalidade à de cada um dos seus alunos, desenvolvendo a do aluno, fortalecendo as suas fraquezas, sem deixar de ter tato e manifestar a sua perfeita compreensão.
Acima de tudo, o instrutor deverá saber transmitir os seus conhecimentos aos alunos. A experiência de instruir, é sem duvida, de imenso valor para o instrutor e ele deverá desenvolvê-la tanto quanto, ou mesmo mais do que o aluno. O instrutor não somente aperfeiçoará a sua própria técnica de voo, mas obterá também um conhecimento intimo da natureza e do comportamento humano. A instrução exerce um efeito tonificante sobre o instrutor consciencioso e o compele a um pensamento introspectivo, desenvolve a sua paciência, tato, compreensão e a sua habilidade de determinar o caráter de um indivíduo; ela proporciona uma previsão nítida das conseqüências futuras de ações e realidades presentes.
O interesse e o entusiasmo do aluno ajudam o instrutor a manter no auge o seu próprio interesse.
Para ser bem sucedido, o instrutor deve, não somente demonstrar um vivo interesse pelo seu aluno e o seu progresso, mas deve realmente senti-lo. Caso contrário, o seu valor como instrutor, é extremamente problemático.
As responsabilidades ligadas aos deveres do instrutor são tais que, não podem ser encaradas superficialmente ou cumpridas com indiferença.
O instrutor, precisa estar ciente de suas responsabilidades e da importância de se manter atualizado com estudo constante.
É preciso pensar em sua responsabilidade perante a aviação, seu aluno e em si próprio, e não só como uma oportunidade rápida de fazer horas de voo.