Em capítulos anteriores, foi apresentado a influência do vento sobre as aeronaves. Fica claro que a influência do vento é de grande importância devido aos diversos efeitos que que ele causa na velocidade em relação ao solo e na direção da aeronave.
Nesse capítulo daremos um enfoque maior nos efeitos do vento sobre a aeronave.
Os efeitos do vento são classificados de quatro maneiras em relação a velocidade.
1 – Neutro: quando não há influencia na aeronave, ou seja, vento calmo.
2 – Favorável: Quando sopre de cauda, dando maior velocidade, podendo ou não causar um afastamento lateral (deriva).
3 – Desfavorável: quando sopra de proa, causando diminuição da velocidade, podendo ou não causar um afastamento lateral.
4 – Indiferente: Quando sopra exatamente de lado, o que chamamos de vento de través. Esse vento não afeta a velocidade, mas causa pequeno ou grande afastamento lateral.
Influência dos ventos
Imaginemos uma aeronave voando numa região com vento calmo, de a para b conforme imagem abaixo. A direção que esta aeronave tomar, se mantida durante todo o voo, fará com que esse chegue exatamente ao ponto b. Nesse caso, a proa é igual ao rumo que é igual a rota.

Agora imaginemos a mesma aeronave voando numa região com vento lateral (través). Se o piloto não considerar a atuação do vento durante a viagem, mesmo mantendo exatamente a mesma direção, não chegará ao seu destino. Haverá um deslocamento lateral, que formará um ângulo chamado de deriva. A deriva dá origem a um novo caminho que será percorrido na realidade, levando a aeronave a um ponto diferente do ponto de destino.
Na imagem ao lado pode-se ver em verde o angulo de deriva criado devido a força do vento de través vindo pela esquerda da aeronave a deslocando para a direita. Quando o vento é de esquerda criando uma deriva para a direita chamamos de deriva positiva, quando o vento for de direita deslocando a aeronave para a esquerda cria-se uma deriva negativa. Isso será bastante importante para cálculos de planejamento.

A deriva é um erro gerado pela força do vento e para corrigir essa tendência o piloto deve criar um ângulo em sentido contrário. Esse ângulo sempre deverá ser criando para cima do vento e chamasse ângulo de correção de deriva (ACD).
O ângulo de correção de deriva será igual ao ângulo de deriva, porem em sentido contrário.
Caso uma aeronave sofra vento lateral pela esquerda sua deriva será para a direita e sua correção deverá ser para a esquerda, ou seja, para cima do vento.
Na imagem ao lado pode-se ver claramente os ângulos de deriva em verde e correção de deriva em vermelho. Ambos devem ser iguais para que a aeronave possa voar sobre a rota programada e chegar no ponto b de destino.

Quando o ângulo de correção de deriva for para a esquerda teremos um ângulo negativo e quando for para a direita teremos um ângulo positivo. Isso difere dos valores da deriva, que é exatamente o oposto disso.
O vento não influencia o voo apenas pela direção de onde vem (DD), mas, também, e principalmente pela sua velocidade (VV).
A velocidade do vento influenciará diretamente a velocidade do avião em relação ao solo (VS). Partindo da VA, a VS pode ser maior, menor ou igual. Além disso, a velocidade do vento de traves pode agravar ou diminuir o ângulo de deriva.
É importante comentar que, a velocidade aerodinâmica não será influenciada pela velocidade do vento, ela se manterá constante em todo o voo. Apenas a VS mudará, para maior ou para menos, dependendo da direção do vento. Vemos que com um vento de proa a VS vai ser menor do que a VA, se o vento por de cauda a VS será maior do que a VA. Caso o vento seja exatamente de través a VS será igual a VA.

É importante também comentar que a VA é uma velocidade usada para cálculos de planejamento, enquanto a VS será utilizada na pratica para informação de estimados, pois trata-se da velocidade real da aeronave.
Efetuando as correções de vento usando o computador de voo
Foi apresentado até aqui conceitos já vistos anteriormente, conceitos importantes para se entender como efetuar essas correções de vento usando o computador de voo.
Utilizaremos nesse caso a face b do computador de voo, mostrada abaixo com seus devidas características.

No corpo principal da face b do computador de voo há uma rosa dos ventos, sobre uma chapa plástica transparente contendo, no seu centro, um furo chamado de grummet.
Na régua há uma linha vertical central com valor zero, na qual tem início, para a direita ou para a esquerda, a leitura de outras linhas verticais igualmente espaçadas. Essas linhas verticais representam os ângulos de correções de derivas. Se a ACD foi para a direita será somada (+) e se for para a esquerda será subtraída (-).
Há ainda na régua, as linhas horizontais também igualmente espaçadas cuja finalidade é representar as velocidades. Um lado da régua tras baixas velocidades e o outro lado altas velocidades. Ficar sempre atento a escala da régua, tanto nas linhas verticais quando nas horizontais.
Existem três cálculos de vento que são realizados com a face b do computador de voo. Que se baseiam nos dados ou informações de que o piloto tem disponível para a realização do cálculo.
1° caso – Achando a VS, ACD, PROA
Para se resolver o primeiro caso é necessário que o piloto tenha os seguintes dados:
- Velocidade aerodinamica
- Rumo verdadeiro
- Direção e velocidade do vento
Com esses dados em mãos basta seguir os passo a passo abaixo para resolver a questão.
1º Colocar a Direção do Vento no True Index
2º Marcar a Velocidade do Vento acima do Grumet
3º Colocar no True Index o Rumo Verdadeiro
4º Escorregar a régua até o ponto marcado ficar sobre a linha da VA (não gire o disco)
5º Ler na linha vertical a Correção de Deriva
6º Ler no Grumet a Velocidade de Solo
Veja o exemplo abaixo:
EX: 1º CASO
DV/VV = Direção e Velocidade do Vento
RV=130º
VA=150kt
DV/VV = 200º/25kt
ACD=?
VS=?
PV=?




Após efetuar os cálculos foi encontrado VS igual a 140 Kt e ACD igual a 8. Pode-se concluir que a aeronave sofre com um vento lateral vindo de direita a fazendo derivar para a esquerda. Pode-se observar também que a aeronave sofre com o vento de proa, devido a VS ser menos do que a VA. Devido ao ângulo de correção de deriva estar para a direita deve-se soma-lo ao rumo verdadeiro para se obter a proa verdadeira.

2° Caso – Achando a VS, ACD, RUMO
Para se resolver o segundo caso é necessário que o piloto tenha os seguintes dados:
- Proa verdadeira
- Velocidade aerodinâmica
- Direção e velocidade do vento
Com esses dados em mãos basta seguir os passo a passo abaixo para resolver a questão.
1º Colocar a Direção do Vento no True Index
2º Marcar a Velocidade do Vento acima do Grumet
3º Colocar no True Index a Proa Verdadeira
4º Escorregar a régua até o ponto marcado ficar sobre a linha da VA (não gire o disco)
5º Ler na linha vertical a Correção de Deriva
6º Ler no Grumet a Velocidade de Solo
Veja o exemplo abaixo:
EX: 2º CASO
PV=100º
VA=130kt
DV/VV = 130º/15kt
ACD=?
VS=?
RV=?




Após efetuar os cálculos foi encontrado VS igual a 117 Kt e ACD igual a 4. Pode-se concluir que a aeronave sofre com um vento lateral vindo de direita a fazendo derivar para a esquerda. Pode-se observar também que a aeronave sofre com o vento de proa, devido a VS ser menos do que a VA. Devido ao ângulo de correção de deriva estar para a direita deve-se soma-lo ao rumo verdadeiro para se obter a proa verdadeira. Porem como já temos o valor da prova verdadeira e queremos o valor do rumo verdadeiro devemos realizar uma pequena mudança na formula para encontrar o rumo. Observar ao lado como foi feito essa mudança.

3° caso – Achando a DIREÇÃO E VELOCIDADE DO VENTO
Para se resolver o terceiro caso é necessário que o piloto tenha os seguintes dados:
- Proa verdadeira
- Rumo verdadeiro
- Velocidade aerodinâmica
- Velocidade do solo
Com esses dados em mãos basta seguir os passo a passo abaixo para resolver a questão.
1º Colocar Rumo Verdadeiro no True Index
2º Colocar o Grumet na Velocidade de Solo
3º Marcar a ACD (RV ≠ PV) sobre a linha da Velocidade Aerodinâmica
4º Girar o disco até o ponto marcado ficar sobre a linha central da régua e acima do Grumet
5º Ler no True Index a Direção do Vento
6º Ler na diferença entre o Grumet e o Ponto Marcado a Velocidade do Vento
Veja o exemplo abaixo:
EX: 3º CASO
RV=100º
PV= 093º
VA=80kt
VS=105
DV/VV = ?
Obs: Para encontrar a ACD basta subtrair o rumo verdadeiro da proa verdadeira.
Obs2: Lembrar que a ACD negativa deve ser marcada no lado esquerdo.




Após efetuar os cálculos foi encontrado direção do vento vindo de 300° e velocidade de 27Kt. Esse caso, também chamado de vento desconhecido, é o mais temido pelos alunos na banca da ANAC. Constantemente aparece uma questão sobre esse assunto na prova, porém, como foi apresentado, trata-se de um cálculo tão fácil como os outros.

Vale uma pequena observação, trabalhamos nesse capítulo utilizando o computador de voo E6B, porem, existe um outro computador de voo, chamado de CR3. Ambos efetuam os mesmos cálculos porem de forma bastante diferenciada. Sempre aconselhamos o uso do computador de voo E6B por se tratar de um computador de voo mais fácil e possuir uma aparência mais limpa e harmoniosa.