Considera-se disbarismos os estados patológicos decorrentes das variações da pressão barométrica com exceção da hipóxia.
Aerodilatação
É o termo utilizado para designar a expansão gasosa nas cavidades orgânicas devido à queda da pressão atmosférica que acompanha a ascensão da aeronave. A expansão gasosa pode acontecer nos seios da face, na cavidade dentária, no ouvido médio e no sistema digestivo – estômago e intestinos – acompanhada de sintomas que pode provocar desconfortos ou incapacidade ao aeronauta. A pressurização das aeronaves, em geral, é suficiente para equalizar as pressãoes interna e externa do
organismo, porém, se houver qualquer alteração das vias aéreas superiores (fossas nasais, faringe, laringe), como um resfriado, esta equalização se torna ineficiente ou insuficiente. Diminuindo a pressão atmosférica, os gases contidos nas várias cavidades do organismo tendem a se dilatar e, se não escapam, provocam fortes dores nesses órgãos. Como medida preventiva algumas práticas são recomendadas, como: evitar ingerir bebidas gaseificadas, alimentos facilmente fermentáveis (antes do
voo), manter os dentes conservados, estar atento a indivíduos portadores de resfriados e inflamações de garganta.
Seios da face
Os seios da face ou cavidades paranasais são espaços repletos de ar situados dentro dos ossos da face, dispostos aos pares: maxilares, etmoidais, frontais e esfenoidais, um para cada lado, estes se comunicam com as fossas nasais através de orifícios ou canais. Durante os procedimentos de pouso e decolagem, a pressão existente nos seios da face tendem a se equalizar com a pressão da cabine. Quando não é possível esta equalização, há uma expansão dos gases existentes nesta cavidade, gerando fortes dores no seio afetado, a esse acontecimento da se o nome de barosinusite ou aerosinusobaropatia.
Os seios mais comumente acometidos são os frontais, seguidos pelos maxilares. Para que o equilíbrio das pressões se estabeleça nas diferentes altitudes, os seios e a nasofaringe devem estar livres de qualquer doença, como infecções das vias aéreas superiores, rinite alérgica, desvio de septo, pólipos e sinusite. Se existir qualquer uma destas alterações, o aeronavegante poderá desenvolver barosinusite. Nas decolagens a pressão decresce com a ascensão da aeronave, o que faz com que o volume de ar se expanda dando lugar a uma dor sinusal, esta dor não será aliviada até que haja a desobstrução através do uso de algum descongestionante nasal. Já nos pousos ou sob a água, o bloqueio desses seios pode desencadear ruptura dos vasos capilares da mucosa, acompanhada de forte dor e sangramento.
As barosinusites podem ser divididas em obstrutivas e não obstrutivas, as obstrutivas são causadas por desvio de septo ou presença de carne esponjosa, requer tratamento através de correção cirúrgica; as não obstrutivas são causadas pela presença de secreções rino ou nasofaringeas, rinite alérgica, etc., para tratamento é recomendável fazer uso de analgésicos, antialérgicos, descongestionantes nasais e antigripais, sempre se atentando para os efeitos colaterais que podem surgir.
Ouvido médio
O ouvido médio está localizado dentro do osso temporal e separado do ouvido externo pelo tímpano. É um pequeno espaço aéreo onde se encontram três ossinhos que são o martelo, a bigorna e o estribo, comunica-se com o ambiente e com a nasofarige através da Trompa de Eustáquio (ou tubo auditivo). A pressão existente no interior do ouvido médio, em geral, é idêntica a do ambiente. Em condições de normalidade, a Trompa de Eustáquio funciona como uma válvula unidirecional, quando a pressão
interna aumenta, ela permite a saída do ar de forma passiva. No entanto, se a pressão interna diminui, a trompa comumente não permite a entrada do ar, a não ser que a abertura seja provocada. Quando, por algum motivo, a pressão interna do ar presente no ouvido médio tornar-se desigual a pressão do ambiente, e a Trompa de Eustáquio não permitir a passagem do ar para que ocorra a equalização dessas pressões, pode ocorrer o barotrauma.
Durante o procedimento de decolagem, à medida que a altitude aumenta, a pressão atmosférica diminui e o ar presente no ouvido médio se expande, e procura escapar intermitentemente através da Trompa de Eustáquio. Uma bolha de ar é forçada para o exterior, quando esta bolha de ar atinge o exterior, ouvimos um “click” e as pressões são igualadas para a altitude em que nos encontramos. Durante a descida, à medida que a altitude aumenta, a pressão barométrica diminui, e o volume de ar presente no ouvido médio vai reduzindo, criando assim uma pressão negativa em relação ao ambiente.
O barotrauma do ouvido médio, que leva a barotite ou aerootobaropatia, ocorre mais frequentemente nos procedimentos de pouso, pode ser uni ou bilateral, é mais comum na presença de condições que dificultem a abertura do tubo auditivo, como: infecções (resfriado, gripe, otite, faringite, amidalites, irritação da garganta, infecções de ouvido…) ou alergias, e em crianças, já que estas possuem a Trompa de Eustáquio com um diâmetro menor que a dos adultos. Popularmente conhecida como bloqueio dos ouvidos. A barotite é definida como uma inflamação traumática aguda ou crônica causada por alterações da pressão atmosférica.
Profilaxia:
Os riscos da barotite podem ser reduzidos através de manobras que promovam a abertura ativa da Trompa de Eustáquio. Por isso, é importante permanecer acordado durante pousos e decolagens. A abertura da Trompa de Eustáquio pode ser facilitada através das seguintes manobras:
- Bocejar, deglutir;
- Mascar chicletes;
- Beber pequenas quantidades de líquidos;
- Fazer uso de descongestionante nasal;
- Manobra de valsalva: pinçar as narinas, fechar a boca e realizar um expiração suavemente forçada (deve ser executada com cuidado e caso a pessoa não esteja gripada);
- As crianças de baixa idade devem ingerir líquidos ou serem amamentadas.
Não voar resfriado ou gripado
Cavidades Dentárias
Os dentes também podem provocar fenômenos dolorosos durante a permanência em grandes altitudes sem, entretanto, apresentarem gravidade. A dor pode se tornar mais severa ou não, com o aumento da altitude. A descida normalmente alivia os sintomas. A dor de dente provocada por variações bruscas da pressão atmosférica dá-se o nome de aerodontalgia. Como tratamento pouco pode ser feito, o alívio vem com a abertura do dente, permitindo a saída do ar do interior, normalmente não passa com analgésicos de uso comum. As causas mais comuns são: cáries mal obturadas, reação da polpa vital exposta, reação de degeneração pulpar com formação de gases sob obturações mal executadas e, uma causa pouco comum, a presença de abscessos na raiz do dente. De modo geral, o melhor remédio para estes casos é a prevenção, através de uma boa higiene e de visitas periódicas ao dentista.
Aparelho digestivo
A expansão dos gases nas cavidades do aparelho digestivo pode ser denominada aerogastrobaropatia, quando no estômago, ou aeroenterobaropatia, quando no intestino. Causa cólicas, dor na área gástrica, opressão torácica, falta de ar, hipermotilidade intestinal, borborigmo (ruídos dos gases), flatus/meteorismo, eructações, hipotensão arterial, síncope (desmaio súbito).
O tratamento é mais de caráter preventivo, evitando a ingestão de alimentos formadores de gases (feijão, cebola, repolho, pepino, massas e doces, melão etc.) e bebidas gaseificadas. No entanto, a diminuição dos sintomas pode ser obtida através da equalização das pressões. A movimentação do corpo auxilia na eliminação dos gases (caminhada e massagem abdominal) e se necessário, uma medicação antiespasmódica pode ser administrada.
Aeroembolismo ou doença da descompressão
É a condição produzida pela súbita baixa da pressão barométrica que ocorre em grandes altitudes, em especial, produzindo queda do valor da pressão parcial do nitrogênio. Seus efeitos sobre o organismo se caracterizam pelos sintomas gerados pela libertação no corpo humano de bolhas de nitrogênio (mas também de outros gases como o oxigênio, gás carbônico e vapor d’água) que normalmente se encontram diluídos nos líquidos orgânicos. Tal fenômeno pode ser explicado através da Lei de Henry: “A quantidade de um gás dissolvido por um líquido varia diretamente com a pressão, se a temperatura for constante”.
Os sintomas produzidos pela baixa súbita de pressão atmosférica são incômodos e limitam a duração do voo, principalmente em altitudes acima de 30.000, onde podem incapacitar alguém rapidamente. A melhor forma de entender o mecanismo da liberação de bolhas gasosas ao nível dos tecidos é observar o que ocorre em uma garrafa de refrigerante. Quando a mesma está fechada, existe em seu interior uma determinada pressão que mantém os gases em dissolução no líquido. Ao se retirar a
tampa, há um desequilíbrio momentâneo de pressão: a pressão do líquido passa a ser maior e com isso são libertadas inúmeras bolhas de ar. Ao se fechar novamente a garrafa, os gases libertados irão progressivamente igualando as duas pressões e as bolhas de gás vão diminuindo até cessarem de sair
do líquido. O mesmo ocorre com o sangue. Quando a pressão atmosférica baixa subitamente a determinados níveis, os gases em solução nos líquidos orgânicos são libertados e vão se localizar em locais dos mais variados, podendo provocar sintomas graves. O nitrogênio é o gás que tem maior volume em solução dissolvido nos líquidos orgânicos, em condições normais. As manifestações clínicas do aeroembolismo podem ser classificadas em 4:
- CHOKES (sufocação): Ocorre quando há formação de bolhas gasosas de nitrogênio nos vasos sanguíneos dos pulmões, podendo resultar em hipóxia (que será vista com mais detalhes posteriormente) e outros sintomas respiratórios, como sensação de queimação ou de dor pontiaguda sob o esterno, encurtamento da respiração, opressão no tórax e no abdômen, sentimentos de sufocação, dor intensa à inspiração profunda, tosse seca involuntária e cianose;
- BENDS (encurvamento): Resultam de bolhas gasosas de nitrogênio nas articulações, causando
intensa dor na articulação e no membro. A dor geralmente é leve, de início, mas pode se
intensificar e causar incapacidade; - ITCH, PARESTESIA OU CREEPS (pele): Produz um formigamento ou insensibilidade da pele e pode resultar em irritação e manchas avermelhadas. Causada por formação de bolhas gasosas de nitrogênio sob a pele, na camada adiposa, principalmente;
- STAGGERS (Sistema Nervoso Central): A formação de bolhas nos vasos sangüíneos pode bloquear o fluxo de sangue a órgãos vitais, incluindo o cérebro. Como resultado, pode ocorrer dor facial e mandibular, distúrbios visuais (visão embaçada, pontos cegos, escotomas cintilantes), distúrbios sensoriais, paralisia parcial, confusão, convulsão e perda da consciência.
Indivíduos que viajam de avião pouco tempo após o mergulho podem sofrer efeitos mais graves da doença por descompressão, quando expostos a mudanças na altitude e na pressão. Mergulhar a uma profundidade de aproximadamente 30 pés leva o corpo a absorver duas vezes a quantidade de nitrogênio normalmente presente. Subsequentemente, voar acima de 8.000 pés seria o equivalente a um não mergulhador voar a 40.000 pés em uma aeronave não pressurizada. A Lei de Henry é aplicada e o nitrogênio pode escapar para dentro do corpo, resultando na doença por descompressão. A Federal Aviation Administration recomenda que os mergulhadores autônomos retardem o voo, em pelo menos, 12 horas, quando tiverem se submetido a profundidades abaixo de 30 pés ou, pelo menos, 24 horas
após uma elevação que necessitou parada de descompressão.
Para tratar todas as formas de aeroembolismo é necessário oxigênio a 100% no nível do mar, o que promoverá a desnitrogenação dos tecidos. A pressurização das cabines veio resolver satisfatoriamente este problema, que juntamente com a hipóxia são os fatores que mais impedem e tornam difícil a sobrevivência do homem em grandes altitudes. O aeroembolismo é uma ocorrência que na aviação comercial não é muito comum, é somente encontrada em situações de emergência, causadas por ruptura de uma janela ou porta da cabine pressurizada, acima de 30.000pés.