Processo ensino-aprendizagem

DEFINIÇÃO

Para se analisar os vários conceitos que envolvem o processo ensino-aprendizagem é necessário ter- se em mente as diferentes épocas nas quais estes se desenvolveram, como também compreender sua mudança no decorrer da história de produção do saber do homem.

O conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo com base no pressuposto

de que todo conhecimento provém da experiência. Ora, se o conhecimento provém de outrem, externo ao indivíduo, isto significa afirmar o primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como um pote vazio, como um ser vazio, sem saberes e com a função única de depositário de conhecimento.

Este conceito inicial é baseado no positivismo que influenciou diferentes conhecimentos, entre eles o behaviorismo. Neste, a aprendizagem se dá pela mudança de comportamento resultante do treino ou da experiência. E se sustenta sobre os trabalhos dos condicionamentos respondente e, posteriormente, operantes.

Para refutar estes conceitos que determinam o ser humano como passivo e não produtor surge a Gestalt, racionalista. Neste momento histórico não se fala em aprendizagem, mas em percepção, posto que tal corrente não acredita no conhecimento adquirido, mas defende o conhecimento como resultado de estruturas pré-formadas, do biológico do indivíduo.

Por fim, há de se chegar à psicologia genética tendo como representantes nomes como Piaget, Vygotsk e Wallon e que segundo Giusta, levam a uma concepção de aprendizagem a partir do confronto e colaboração do conhecimento destes três: empirismo, behaviorismo e gestáltico.

Atualmente, não só na área da educação mas também em outras áreas, como a da saúde, pensa-se no indivíduo como um todo – paradigma holístico. Parte-se de uma visão sistêmica e, portanto, amplia-se o conceito de educação, o conceito do processo de ensino-aprendizagem.

O processo de ensino-aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de formas diferentes que vão desde a ênfase no papel do professor como transmissor de conhecimento, até as concepções atuais que concebem o processo de ensino- aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do educando.

As reflexões sobre o estado atual do processo ensino-aprendizagem nos permitem identificar um movimento de ideias de diferentes correntes teóricas sobre a profundidade do binômio ensino e aprendizagem. Entre os fatores que estão provocando esse movimento podemos apontar as contribuições da ‘Psicologia atual em relação à aprendizagem, que levam todos a repensar a prática educativa, buscando uma conceptualização do processo ensino-aprendizagem.

Apesar de tantas reflexões, a situação atual da prática educativa das escolas ainda demonstra a massificação dos alunos com pouca ou nenhuma capacidade de resolução de problemas e poder crítico-reflexivo, a padronização dos mesmos em decorar os conteúdos, além da dicotomia ensino-aprendizagem e do estabelecimento de uma hierarquia entre educador e educando.

A solução para tais problemas está no aprofundamento de como os educando aprendem e como o processo de ensinar pode conduzir à aprendizagem.

Acrescenta-se ainda que a solução está em partir da teoria e colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo de forma crítica-reflexiva-laborativa: crítica e reflexiva para pensar os conceitos atuais e passados e identificar o que há de melhor; laborativa não só para mudar como também para criar novos conhecimentos.

“Para que se repensem as ciências humanas e a possibilidade de um conhecimento científico humanizado há que se romper com a relação hierárquica entre teoria, prática e metodologia. Teoria e prática não se cristalizam, mas se redimensionam, criam e são também objetos de investigação. Nesse sentido, pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino/aprendizagem e a atualiza”.

Paulo Freire apud DIAS, diz que daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses dois momentos do ciclo gnosiológico: o que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. A dodiscência – docência- discência – e a pesquisa, indicotomizáveis, são assim práticas requeridas por estes momentos do ciclo gnosiológico.

Pensar nesse processo ensino-aprendizagem de forma dialética associando-se à pesquisa, promove a formação de novos conhecimentos e traz a ideia de seres humanos como indivíduos inacabados e passíveis de uma curiosidade crescente – aqui considerada como uma curiosidade epistemológica, uma capacidade de refletir criticamente o aprendido – capaz de levar a um continum no processo ensinar-aprender.

No processo pedagógico alunos e professores são sujeitos e devem atuar de forma consciente. Não se trata apenas de sujeitos do processo de conhecimento e aprendizagem, mas de seres humanos imersos numa cultura e com histórias particulares de vida. O aluno que o professor tem à sua frente traz seus componentes biológico, social, cultural, afetivo, lingüístico entre outros. Os conteúdos de ensino e as atividades propostas enredam-se nessa trama de constituição complexa do indivíduo.

O processo de ensino-aprendizagem envolve um conteúdo que é ao mesmo tempo produção e produto. Parte de um conhecimento que é formal (curricular) e outro que é latente, oculto e provém dos indivíduos.

Todo ato educativo depende, em grande parte, das características, interesses e possibilidades dos sujeitos participantes, alunos, professores, comunidades escolares e demais fatores do processo. Assim, a educação se dá na coletividade, mas não perde de vista o indivíduo que é singular (contextual, histórico, particular, complexo). Portanto, é preciso compreender que o processo ensino-aprendizagem se dá na relação entre indivíduos que possuem sua história de vida e estão inseridos em contextos de vida próprios.

Pela diversidade individual e pela potencialidade que esta pode oferecer à produção de conhecimento, conseqüentemente ao processo de ensino e aprendizagem, pode-se entender que há necessidade de estabelecer vínculos significativos entre as experiências de vida dos alunos, os conteúdos oferecidos pela escola e as exigências da sociedade, estabelecendo também relações necessárias para compreensão da realidade social em que vive e para mobilização em direção a novas aprendizagens com sentido concreto.

Pensar cada indivíduo como um contribuinte no processo de ensinar-aprender é participar da colocação de Giusta sugerindo que se deve superar a dicotomia transmissão x produção do saber levando a uma concepção de aprendizagem que permite resgatar:

a)            a unidade do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito/objeto, em que se afirma, ao mesmo tempo, a objetividade do mundo e a subjetividade;

b)           a realidade concreta da vida dos indivíduos, como fundamento para toda e qualquer investigação.

Lembrando que o processo ensino-aprendizagem ocorre a todo momento e em qualquer lugar questiona-se então neste processo, qual o papel da escola? Como deve esta deve ser considerada? E qual o papel do professor?

É função de a escola realizar a mediação entre o conhecimento prévio dos alunos e o sistematizado, propiciando formas de acesso ao conhecimento científico. Nesse sentido os alunos caminham, ao mesmo tempo, na apropriação do conhecimento sistematizado, na capacidade de buscar e organizar informações, no desenvolvimento de seu pensamento e na formação de conceitos. O processo de ensino deve, pois, possibilitar a apropriação dos conteúdos e da própria atividade de conhecer.

A escola é um palco de ações e reações, onde ocorre o saber-fazer. É constituída por características políticas, sociais, culturais e críticas. Ela é um sistema vivo, aberto. E como tal, deve ser considerada como em contínuo processo de desenvolvimento influenciando e sendo influenciada pelo ambiente, onde existe um feedback dinâmico e contínuo.

É neste ambiente de produções e produto que se insere o professor, o educador, não como um indivíduo superior, em hierarquia com o educando, como detentor do saber- fazer, mas como igual, onde o relacionamento entre ambos concretiza o processo de ensinar-aprender.

O papel do professor é o de dirigir e orientar a atividade mental dos alunos, de modo que cada um deles seja um sujeito consciente, ativo e autônomo. É seu dever conhecer como funciona o processo ensino-aprendizagem para descobrir o seu papel no todo e isoladamente. Pois, além de professor, ele será sempre ser humano, com direitos e obrigações diversas.

Pensar no educador como um ser humano é levar à sua formação o desafio de resgatar as dimensões culturais, política, social e pedagógica, isto é, resgatar os elementos cruciais para que se possa redimensionar suas ações no/para o mundo.

Ainda no processo da história da produção do saber, permanece na atualidade o desafio de tornar as práticas educativas mais condizentes com a realidade, mais humanas e, com teorias capazes de abranger o indivíduo como um todo, promovendo o conhecimento e a educação.

Em resumo o processo de ensino aprendizagem é o “Conjunto de ações e estratégias que o sujeito/educando, considerado individual ou coletivamente, realiza, contando para tal, com a gestão facilitadora e orientadora do professor, para atingir os objetivos propostos pelo plano e formação.

1.            O Processo de ensino-aprendizagem desenvolve-se de maneira presencial, não presencial ou mista, utilizando para esse fim ambientes educacionais como escolas, centros de formação, empresas e comunidades urbanas e rurais.

2.            O Processo de ensino-aprendizagem está centrado no educando e dá ênfase tanto ao método quanto ao conteúdo.

3.            O Processo de ensino-aprendizagem compreende a organização do ambiente educativo, a motivação dos participantes, a definição do plano de formação, o desenvolvimento das atividades de aprendizagem e a avaliação do processo e do produto.

4.            O Processo de ensino-aprendizagem constitui essencialmente o trabalho escolar, cujo produto é os conhecimentos construídos, os conhecimentos dominados e as habilidades. (cf. CATAPAN, A. Hack. “O processo do trabalho escolar, In: Perspectiva, jul/dez, 1996)”

A secura e distanciamento entre professor e aluno devem dar lugar a uma relação de carinho e proximidade. Uma proximidade tal que aluno seja levado a querer aprender… A desejar sempre mais e que o educador sinta-se como um elemento de importância fundamental na vida daquele aluno que levará para sempre os ensinamentos adquiridos.

O instrutor deve “traduzir” os ensinamentos de forma que o aluno se sinta dentro de uma inesquecível “viagem” e dessa forma possa assegurar a produtividade do ensinamento.

Existem profissionais extremamente habilitados para militar em suas respectivas áreas e ainda munidos de profundo conhecimento, entretanto limitados quando o assunto é transmitir seus conhecimentos.

A interação direta entre alunos e professor tem de permitir tanto quanto possível, o acompanhamento dos processos de desenvolvimento que fundamentam uma intervenção diferenciada diante da observação do que vai acontecendo. O ponto de apoio da interação não é fixo, mas constituído de plasticidade, ou seja , deve possibilitar uma interação diferenciada, de acordo com as necessidades dos alunos.

Como podemos perceber , a seleção dos conteúdos e propostas de atividades diante de determinados objetivos educacionais influem e , muitas vezes, determinam que tipo de participação terão os envolvidos nas situações de ensino e aprendizagem.

A intervenção do professor não deve acontecer de forma casual, sem reflexão, sem planejamento. Para que o aluno compreenda o que faz, o professor deve ser capaz de ajudá-lo, utilizando-se de formas de apresentação do conhecimento elaborado culturalmente que motivem o aluno e o envolva em sua aprendizagem, bem como estratégias que possibilitem destacar os conteúdos fundamentais em suas relações com o conhecimento prévio do aluno.

Nesse contexto, o planejamento é o ponto de partida para o favorecimento das relações interativas.

CARACTERÍSTICAS:

A aprendizagem é um processo:

•             DINÂMICO: a atividade é feita através do aluno, de forma que envolva a participação

direta e afetiva do mesmo.

•             CONTÍNUO: esta presente desde o início da vida do indivíduo.

•             GLOBAL:o aluno participa como um todo, incluindo aspectos afetivos, psicomotores e cognitivos.

•             PESSOAL: cada pessoa tem uma forma individual de aprender.

•             GRADATIVO: é preciso se atentar para os niveis de aprendizagem , pois ocorre

em uma escala crescente de complexidade.

•             CUMULATIVO: todas as informações tanto atuais como as anteriores são importantes para o sentido de integração de totalização, dessa forma o aluno começa a se reestruturar –se obtendo uma nova perspectiva.

AS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NA APRENDIZAGEM

Há alguns aspectos que atuam de forma combinada para determinar a capacidade

de aprendizagem do aluno, fatores de ordem BIO-PSICO-SOCIAL, são responsaveis éla

individualidade da aprendizagem do aluno. Estaremos analisando abaixo alguns fatores como:

Motivação:

A motivação é um fator complexo para estar se aplicando na aprendizagem porém é de grande importância, pois para que a aprendizagem ocorra com sucesso o aluno tem que querer aprender, é interessante que seja aplicado metas e objetivos para começar a ocorrer um comportamento motivado, como expemplo fazer amigos, fome, sede são todos objetivos que o individuo precisa da motivação para alcançá-los.

Na aprendizagem se atua da mesma forma, o educador promove desafios para que seu aluno motive a se empenhar na tarefa proposta, sendo assim superando seus limites e buscando sua individualidade ao desempenhar a tarefa.

É de estrema importancia o aspecto motivacional quando falamos de instrução de voo, pois ele pode desencadear uma que de desemprenho do aluno, o mesmo encontrara dificuldades de adaptação, de elaboração de respostas emocionais adequadas. Iremos estar vendo com mais detalhes esse fator.

Percepção:

A percepção é um fator essencial para aprendizagem pois sem ela não haveria memória, aprendizagem ou pensamento, perceber é conhecer, o homem aprende a percepção de objetivos e significados, porém além da aprendizagem existe uma tendência no homem de organizar os estimulos apreendidos de forma completa e organizada. Segue abaixo algumas propriedades que influenciam nessa tendencia basica que confere a essa percepção:

•             Totalidade: Percebemos um campo total de componentes isolados que não são simples.

•             Organização: Percebemos campos com estrutura organizadas, com formas de

figura e não estruturas confusas.

•             Dinamismo ou Flexibilidade: É um campo perspectivo em processo de continua sucessão. Suas diferentes possibilidades de reestruturação permitem a apreensão de novas estruturas, levando a resolução de impasses.

•             Pessoalidade: Há percepção é um processo vivido por um percebedor como por

exemplo, é afetado por seus motivos preconceitos, personalidade, por isso com relação a aprendizagem a pecepção pode tanto bloquear o aluno como dar condições de eficiência para seu processo de aprendizagem

Exemplificando, na instrução de voo, parece comum a ocorrência dessas incompatibilidades de campo perceptivo entre instrutor e aluno em situações de aprendizagem de pouso, pane, acrobacias, aproximações, etc.

Memória:

A memória é necessária para o armazenamento de idéias, informações, imagens adquiridas anteriormente, porem a memória humana é limitada pois nem tudo é armazenado e não é tudo que se é lembrado.

Por tanto em relação a atividade aérea é sempre bom frizar que não se deve confiar totalmente na memória, sendo assim usando instrumentos que são eficaz para lembrança do aluno principalmente para a segurança de voo.

Para tanto são usados:

•             Check-lists

•             Manuais

•             Procedimentos padrão

•             Luzes de aviso ( ergonomia )

Quanto aos alunos, em situação de aprendizagem:

•             “Voos mentais” escrito

•             Cópias de mapas das áreas

•             Anotações em debrifim

•             Recursos visuais, etc

A memória está relacionada com a atenção. Para que não aconteça de o piloto não lembrar do que é necessario é importante que elimine as distrações.

Atenção:

A atenção age como um processo seletivo ela se dividi em duas partes o foco e a margem, a mesma é definida como consciencia seletiva homens só estão consciente de um número limitado de dados sensoriais, pois grande parte dos dados colhidos não chegam a consciência.

Não é comum que uma pessoa consiga manter duas tarefas totalmente destintas com atenção e pilotar agrega varias atividades quase simultaneamente, por isso é preciso que o aluno aprenda a integrar varios tipos de informações. Segue abaixo alguns treinamentos que ajudam a se capacitar:

•             SUPERAPRENDIZAGEM: ajuda na automatização dos conteúdos aprendidos, sendo assim o aluno pode realizar outra atividade en- quanto está com atenção focada . Ex: Realizar cheque cruzado enquanto se faz os procedimentos para pouso.

•             INTEGRAÇÃO: É a integração de duas atividades ao mesmo tempo em uma só

performace. Ex: Realizar a manutenção de altura e velocidade.

•             MUDANÇAS RÁPIDAS DO FOCO DA ATENÇÃO: mudança rapida de foco , tendo

a manutenção da capacidade de resposta. Ex: Cheques cruzados.

Os interesses, motivações e conflitos individuais determinam o foco e a margem de nossa atenção. Falhas de atenção podem ocorrer em nosso dia –a-dia, em varias circunstâncias, no aprendizado de voo pode gerar problemas de extrema gravidade. Por isso que o treinamento da atenção é importante para o aprendizado de um piloto.

A grande importância dos instrutores estarem frizando nos treinamentos a integração

,superaprendizagem,mudanças rápidas de focos de atenção,controle emocional,redução de distrações em momentos criticos é essencial para a formação completa do aluno.

PRODUTOS DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem é um conceito que envolve a mudança de comportamento, de forma ampla considerano a mudança de sentimento, ações e pensamentos. Dessa forma pode se ocorrer mudanças de comportamento em três dominio:

•             DOMÍNIO COGNITIVO: inclui a aprendizagem de natureza intelectual ( raciocínio,

abstração, composição, numérico, etc ).

•             DOMÍNIO AFETIVO: inclui a aprendizagem de natureza emocional ( valores, ética,

atitudes, apreciações, etc ).

•             DOMÍNIO PSICOMOTOR: inclui a aprendizagem de natureza motora ( pilotagem,

dirigir, andar, patinar, jogar, etc ).

APRENDIZAGEM CENTRADA NO ALUNO

A aprendizagem centrada no aluno é uma aprendizagem individualizada que, uma vez transferido o foco de atenção do professor para o estudante, potencializa-se as chances de que ocorra uma aprendizagem significativa. Certamente a educação sempre será produto da relação entre educadores e educandos, porém, nesta concepção, os papéis de cada

um são diferentes em relação à construção do conhecimento. No ensino tradicional, o professor é ativo, funciona como fonte de informação que transmite conhecimentos para um receptor passivo. Na aprendizagem centrada no estudante, este é ativo e o instrutor, um mediador que favorece as aprendizagens, considerando as necessidades individuais e o conhecimento prévio já acumulado.

A aprendizagem auto- dirigida e em pequenos grupos são estratégias que favorecem a aprendizagem centrada no estudante.

O estudante deverá preliminarmente compreender que “a aprendizagem auto- dirigida não é sinônimo de aprendizagem auto- indulgente” (Ramsdale, 1996) e conhecer os primeiros passos do caminho para aprender a aprender.

Como a busca e aquisição de conhecimentos constituem um processo contínuo ao longo da vida de cada indivíduo, os estudantes durante o Curso de Medicina serão encorajados a definirem seus próprios objetivos de aprendizagem e tomarem a responsabilidade por avaliarem seus progressos pessoais no sentido de quanto estão se aproximando dos objetivos formulados.

Esta avaliação deve incluir a habilidade de reconhecer necessidades educacionais pessoais, desenvolver um método próprio de estudo, utilizar adequadamente uma diversidade de recursos educacionais e avaliar criticamente os progressos obtidos.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

De forma oposta à aprendizagem repetitiva (fundamentada na memorização de conteúdos), a aprendizagem significativa refere-se ao sentido que o estudante atribui aos novos conteúdos e a forma como esse material se relaciona com os conhecimentos prévios e pode contribuir para o crescimento pessoal e profissional do educando (Ausubel, 19804 e Coll, 20005).

Para aprender significativamente, o estudante precisa ter uma atitude aberta (motivação) para estabelecer vínculos (relações) entre os conteúdos que já conhece e os novos conteúdos, definindo, também, o grau de clareza das novas relações estabelecidas (significados mais ou menos exatos, precisos).

Outro critério fundamental para a aprendizagem significativa é a funcionalidade dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, valores) aprendidos, isto é, o quanto esses conteúdos podem ser, efetivamente, utilizados nas situações da prática profissional, em questão.

Dessa forma, o valor educativo de um projeto educacional está na capacidade de proporcionar aos estudantes experiências (atividades educacionais) que produzam um desequilíbrio no seu conjunto de conhecimentos (previamente organizado) e uma modificação desses esquemas (revisão, construção, enriquecimento).

Quanto mais atividades educacionais estiverem relacionadas à prática profissional, maiores as probabilidades de se conseguir motivação por parte dos estudantes e funcionalidade por parte dos conteúdos. (4 Ausubel D, Novak JD, Hanesian H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana; 1980.)(5 Coll, C. Psicologia e currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. São Paulo: Ática, 2000.) A aprendizagem significativa é potencializada pela integração entre teoria e prática.

Assim, o processo de teorização (modificação dos esquemas de conhecimento) a partir do conhecimento prévio dos estudantes é ampliado quando se tratar de uma reflexão a partir de uma situação real na qual o estudante, de alguma forma, esteve envolvido.

Nesse sentido, promove-se um ciclo entre ação-reflexão-ação, no qual se pode observar o impacto do processo de aprendizagem não apenas nos esquemas cognitivos (conhecimento), mas também nas habilidades (destrezas) e valores (atitudes) envolvidos quando este estudante volta novamente para a ação. A orientação do currículo para o

desenvolvimento de competências fortalece a utilização do ciclo ação reflexão-ação, uma vez que define as ações (desempenhos) que devem ser desenvolvidas a partir da mobilização ao mesmo tempo e corretamente de diversos recursos.

A utilização de problemas simulados também pode promover aprendizagem significativa, desde que respeitem os pré-requisitos já explicitados (motivação do estudante, utilização de conhecimento prévio, produção de desequilíbrio/novo equilíbrio e funcionalidade do conteúdo).

APRENDIZAGEM COGNITIVA

(O QUE O ALUNO NÃO SABIA E DEPOIS ADQUIRE O CONHECIMENTO)

1º Conhecimento ou familiarização

É o nível mais elementar e caracteriza-se por uma tomada inicial de contato, uma idéia geral do assunto ou de suas partes, constituindo-se numa assimilação de pontos elementares pelo aluno, sem envolvimento de profundidade e sem qualquer exigência de conclusões ou aplicações.

Lembrando que, embora se reconheça a presença do “conhecimento” nos demais níveis de aprendizagem, o nível de conhecimento caracteriza-se por ter a evocação como principal processo psicológico aí envolvido, enquanto, nos demais níveis, a evocação é apenas parte de processos mais complexos.

2º Compreensão:

A compreensão está frequentemente relacionada à leitura (compreender o que foi lido ou escritos – compreender uma visão, um símbolo, sons etc). Com isso o aluno, além de entender ou assimilar o sentido exato do assunto, entende o relacionamento entre os seus componentes e seus efeitos.

O comportamento adquirido pelo aluno após “compreender” algo evidencia-se diante de três tipos de comportamento inseridos neste nível:

Translação: O indivíduo pode organizar, ou reorganizar, uma comunicação, reformulá- la, dispô-la de forma diferente em outra linguagem.

Interpretação: O indivíduo pode inter-relacionar suas idéias, reordenando-as em uma

nova configuração, visando um processo de comunicação mais original.

Extrapolação: Extensão das direções ou tendências além dos dados fornecidos, para determinar implicações, efeitos ou consequência, que estão de acordo com as condições descritas na comunicação original.

A aquisição de habilidades neste nível não permite seu uso (aplicação) em situações diferentes daquelas da comunicação e nem exige que o aluno perceba as implicações mais complexas daquilo que está sendo comunicado, o que acontecerá no nível imediatamente superior.

3º Aplicação:

Este nível engloba, necessariamente, os anteriores, uma vez que, para aplicar algo, é preciso antes chegar à compreensão dos métodos, teorias, princípios ou abstrações pertinentes. Alguns educadores chegam a afirmar que “se o aluno realmente compreende algo, então pode aplicá-lo”.

A aplicação requer o uso de abstrações em situações particulares e concretas. As abstrações podem apresentar-se sob forma de idéias gerais, regras de procedimento ou métodos generalizados. Podem, também, ser princípios técnicos, idéias e teoria que devem ser recordados e aplicados.

Três tipos de comportamento podem ser observados neste nível:

Selecionar: Apresentar as idéias, conceitos, definições, regras, métodos e leis

aprendidos, para a solução de um determinado problema.

Transferir: Transferir para a solução de cada situação ou problema, os ensinamentos apropriados e usá-los corretamente.

Empregar: Fazer uso de ensinamentos emanados de diversas fontes e/ou adquiridos em ocasiões diferentes, para solução dos problemas que tenham que ser desvendados após o curso.

Além desses, temos também três últimos níveis: Análise, Síntese e Avaliação que são de estudo bem mais complexos. No entanto, se o aluno deseja aprofundar-se no assunto, deverá buscá-lo na “Taxionomia dos Objetivos Educacionais de Bloon” ou de modo mais superficial, na IMA 37-8, de 30 Jun 88 que trata de: Objetivos de Ensino e níveis a atingir na aprendizagem.

APRENDIZAGEM AFETIVA

(O QUE O ALUNO NÃO SENTIA: PASSA A SENTIR)

Cinco são os níveis que podem ser observados:

1º Acolhimento ou Atenção:

É o nível mais elementar deste domínio. Deve ser entendido como o interesse, sensibilidade ou disposição do aluno em acolher ou prestar atenção ao fenômeno. Exemplos: Prestar atençao a assuntos pertinentes a aviação, ler sobre assuntos ligados a mesma, assitir a filmes.

2º Resposta:

É o nível em que há o desejo no aluno para se tornar suficientemente envolvido ou compromissado com um assunto, fenômeno ou atividade, procurando obter satisfação, trabalhando ou se entregando ao mesmo.

Exemplos: escrever artigos sobre assuntos ligados à aviação, participar de atividades ligadas à engenharia eletrônica, discutir assuntos ligados à energia nuclear.

3º Valorização:

O comportamento categorizado neste nível é suficientemente consistente e estável, para assumir as características de uma crença ou de uma atitude. O aluno manifesta este comportamento com bastante consistência. Exemplos: apontar dez vantagens da carreira que você escolheu em relação a outras duas profissões; defender, com argumentos concretos, o status de sua profissão; atribuir valores à necessidade de hierarquia e disciplina.

4ª Organização:

Este nível pretende que seja a classificação apropriada para objetivos que descrevem os inícios da construção de um sistema de valores, sua organização e suas inter-relações. Este é um processo dinâmico, onde após reunir vários valores já analisados e conceituados, muitas vezes diferentes entre si, há a necessidade do aluno ordená-los harmoniosamente, de forma que organize um sistema estável. Todo este processo ocorre

dentro do aluno. Exemplos:

–              Hoje, na sua vida, o seu trabalho ocupa uma maior ou menos parcela de atividade?

Argumente.

–              Qual a posição relativa que o lazer ocupa hoje na sua escala de valores? Argumente.

5º Caracterização:

Neste nível, os valores já têm lugar na hierarquia de valores do indivíduo; são organizados em algum tipo de sistema internamente consistente e controlam o comportamento do indivíduo por um tempo suficiente, no qual ele se ajustou a se comportar dessa maneira. Na caracterização, não ocorre o fator determinante de atitude do aluno, mas o próprio comportamento, o universo do aluno, a sua filosofia de vida, são influenciadas

decisivamente pelos valores universais enraizados no interior do aluno.

Exemplos de comportamentos esperados neste nível:

•             Ser apontado como o mais estudioso de sua classe.

•             Como você classificaria o seu comportamento diante do problema “X” apresentado?

Em termos gerais, o sistema cognitivo humano apresenta algumas características importantes:

•             estabelecimento de coerência na coleta de dados,

•             ativação do conhecimento prévio sobre o assunto/matéria,

•             elaboração do raciocínio,

•             organização do conhecimento,

•             dependência contextual,

•             delimitação e encapsulação do conhecimento e

•             curiosidade epistêmica: o desafio da investigação para a descoberta.

MOTIVAÇÃO

Para iniciar o tema sobre motivação, seria necessário parar um instante e responder para si próprio “O QUE ME FEZ ESCOLHER ESSA PROFISSÃO?” Assim, começando a refletir sobre nossa própria motivação, seria possível compreendermos o seu significado para nossa própria vida, para as pessoas em geral, para os grupos, para as empresas, para a escola, para os alunos, etc.

OBJETIVO GERAL

•             Identificar a influência da motivação no processo ensino-aprendizagem.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

•             Expressar o conceito de motivação, de acordo com o referencial teórico apresentado.

•             Explicar os componentes envolvidos no processo motivacional.

•             Identificar as variáveis relacionadas à efetividade e valência dos incentivos.

•             Identificar comportamentos ou incentivos intrínseca e extrinsecamente motivados.

•             Interpretar a relação entre incentivos intrínsecos e extrínsecos no processo ensino-

aprendizagem.

•             Empregar adequadamente os tipos de incentivos na atuação como instrutor de voo.

•             Identificar as condições que podem favorecer o grau ótimo de motivação do aluno,

na situação de instrução.

CONCEITO DE MOTIVAÇÃO

Os estudos sobre motivação a definem como “O CONJUNTO DE RAZÕES, DE JUSTIFICATIVAS, QUE EXPLICAM O COMPORTAMENTO DE UMA PESSOA”. Está

envolvida em todas as formas de comportamento, tais como: aprendizagem, desempenho, percepção, atenção, recordação, esquecimento, criatividade, sentimentos, etc.

Para a compreensão do conceito de motivação é preciso analisarmos alguns termos que, inter-relacionados, oferecerão uma idéia do que seja motivação. Os termos são: motivo, necessidade e incentivo:

MOTIVO

O termo é de origem latina e significa “por em movimento, mover”. Em Psicologia,

motivo é o “fator que determina o comportamento de uma pessoa numa dada situação”.

NECESSIDADE

Designa aquilo que é indispensável. Em psicologia, uma necessidade implica no “rompimento do equilíbrio do organismo, gerando um estado de tensão, insatisfação, desconforto, desequilíbrio”.

INCENTIVO

“São objetos ou condições que têm a possibilidade de satisfação, gratificação, e que,

por isso, tornam-se metas para as quais se dirige o comportamento”.

Numa visão de conjunto, verifica-se que há uma relação dinâmica e interdependente

entre os termos.

Sempre que houver uma NECESSIDADE (no organismo ou fora dele), haverá um estado de desequilíbrio, que só poderá ser restaurado com a obtenção de um INCENTIVO (que pode estar no organismo ou fora dele). A ação que desencadeia esse processo de busca da restauração do equilíbrio do organismo denomina-se MOTIVO. À estrutura inter-relacional e dinâmica do conjunto chamamos de MOTIVAÇÃO.

A motivação, indiscutivelmente, é um dos conceitos fundamentais da psicologia, é de interesse específico do instrutor, cuja tarefa é dirigir o desenvolvimento de seus alunos na direção dos objetivos desejáveis.

A partir da identificação dos elementos participantes no processo motivacional, ou seja, necessidades, motivo e incentivos, evidenciou-se como a motivação se relaciona com o processo de aprendizagem. Também, de que forma o instrutor pode fazer uso dos incentivos visando melhores resultados por parte de seus alunos.

Identificou-se a existência de um grau ótimo de motivação e as variáveis que interferem

nesse fator.

PRÁTICA PROFISSIONAL

O exercício do voo requer não só conhecimentos, mas também habilidades e atitudes que devem ser desenvolvidas durante todas as séries do curso e que poderão ser aperfeiçoados em cursos de técnicas de relações interpessoais, segurança de voo, técnicas de instrução.

As habilidades compreendem não só destrezas e comunicação, como também habilidade de raciocinar criticamente, buscar e selecionar informações, e também a habilidade para desenvolver um método pessoal de aprendizagem e ensinamento. As atitudes compreendem a postura e os valores que os profissionais assumem no contato com alunos e outros profissionais.

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NA AVIAÇÃO

O conhecimento do processo ensino-aprendizagem é, sem dúvida, um dos principais passos para a preparação do futuro instrutor de voo. A instrução aérea, por suas peculiaridades, exige uma constante associação de conhecimentos progressivos, técnicas próprias e uma análise voo por voo. Este será o conteúdo explorado pela presente apostila, na profundidade necessária ao desempenho das novas funções.

Porém, antes de se iniciar o processo propriamente dito, faz-se mister definir-se

claramente a terminologia a ser utilizada.

CONCEITUAÇÃO

Quando se aborda o processo ensino-aprendizagem, surge de imediato a necessidade de distinguir os termos ensino aprendizagem, eventualmente usados como sinônimos.

A aprendizagem é conceituada como uma mudança de comportamento, ou seja, algo de novo que passa a fazer parte da personalidade do aluno. Se o aluno não conhecia, passa a conhecer; se não sentia, passa a sentir; se não executava, passa a executar. Já o ensino é a transmissão de conhecimentos informações ou esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação. O ensino ou a instrução é tarefa do instrutor. Juntando- se ensino-aprendizagem tem-se a educação e o “como” educar. Por que meios realizar concretamente a educação? É o processo Ensino-Aprendizagem que será abordado a seguir.

PENSAMENTO DIDÁTICO CONTEMPORÂNEO

Quando se planeja “como” educar, há necessidade de ser situada a didática em uso dentro de sua evolução.

A concepção inicial de educação, chamada pedagogia ordinária, considerava o professor e o aluno fechados numa circunstância, onde o professor era o agente principal do processo e autocrata, enquanto o aluno era receptor passivo. Com isto, o objetivo estava desviado da realidade do aluno. Os métodos utilizados apelavam à memorização e o aluno “aprendia” repetindo. Porém esta concepção pedagógica não vinha satisfazendo as necessidades do homem.

Estudos demonstraram que o contexto onde se insere o professor é diferente do que insere o aluno, embora isto não signifique que eles devam ser tratados como pólos individuais, fechados em si, mas sim em relação interpessoal constante. Também havia a necessidade de adequação da educação à realidade do aluno, ou seja, o respeito às diferenças individuais.

Na didática contemporânea o professor passa a ser um facilitador e orientador da aprendizagem, enquanto que o aluno é o autor desta aprendizagem. Os objetivos são realizados de maneira a desenvolver harmoniosamente o aluno, tendo em vista o ajustamento e a auto realização do aluno ao meio em que vive.

Os métodos na didática contemporânea exigem, sem dúvida, muito preparo e conhecimento, antecipando procedimentos ou condições exteriores úteis à aprendizagem. A tarefa do professor ficou mais abrangente. O processo ensino-aprendizagem passou a aceitar a influência de uma aprendizagem sobre outra.

TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM

A vida do ser humano é uma sucessão de aprendizagem: as primeiras letras, o andar de bicicleta, o aprender a dirigir, o pilotar, enfim, inúmeras aprendizagens que fazem parte da bagagem comportamental do homem. E justamente o conhecimento da influência de uma aprendizagem sobre outra facilitará a nossa tarefa como instrutores. A transferência ocorre quando um aluno se pergunta sobre o que fazer com aquilo que acabou de receber. Como aplicar? E o que a nova aprendizagem vai trazer de bom ou ruim para a sua vida?

Por isso, quando falamos em influência, temos que verificar dois pontos distintos:

A influência pode ser positiva ou negativa. Quando é positiva, chamamos de facilitação. Por exemplo, engatinhar facilita andar; “simulador” facilita “voar”. Porém às vezes, a influência é negativa. Por exemplo, guiar no Brasil dificultará o aprendizado de guiar na Inglaterra, assim como pilotar avião e depois pilotar helicópteros, ou mesmo passar de um carro comum para um carro hidráulico. Outro resultado possível é que uma aprendizagem não tenha efeito nenhum sobre outra.

Outro aspecto a ser analisado é a influência da aprendizagem futura sobre a anterior. Por

exemplo, um instrutor de voo aprende técnicas de ensino elementares e depois aprende técnicas mais complexas. Ao ser testado no seu primeiro aprendizado, ele recebe uma transferência retroativa do aprendizado posterior, o qual facilitará o seu desempenho nas técnicas de ensino elementar. Da mesma forma, na contra- mão, aprender a jogar tênis e depois frescobol, por exemplo, dificultará o desempenho do primeiro aprendizado.

O Instrutor, então, precisa ter cuidado para que uma próxima matéria não interfira nos

conhecimentos já adquiridos, mas, ao contrário, sirva para reforçá-los.

A transferência de aprendizagem também é influenciada pela identificação do aluno no processo de ensino com o ambiente, com a pessoa do próprio instrutor, enfim, pelos fatores subjacentes às técnicas de ensino empregados.

TÉCNICAS DE ENSINO

Quando se deseja transmitir algum ensinamento, uma pergunta é sempre formulada:

Que objetivo se pretende levar o educando a alcançar após realizada a aprendizagem?

Todo instrutor, ao iniciar qualquer instrução, tem um objetivo em mente, tem a resposta a esta pergunta perfeitamente esquematizada. Nem todos, entretanto, conseguem orientar seus alunos de forma que atinjam este objetivo. Ou há ineficiência do instrutor em transmitir aquilo a que se propõe ou há desinteresse do aluno em receber qualquer mensagem a ele destinada. Pior, talvez, será a constatação, durante os trabalhos de avaliação de aprendizagem, de que o objetivo não foi atingido.

O primeiro caso (ineficiência do instrutor) pode ser resolvido com um melhor processo

ensino-aprendizagem.

O segundo caso (desinteresse do aluno) é bem mais complexo, envolve uma pré- disposição que, para ser superada, demandará grandes esforços por parte do instrutor.

Entre as demais causas desse insucesso aponta-se, com frequência, a inadequação das técnicas de ensino empregadas. Imagina-se, por exemplo, uma aula cujo objetivo é tornar os alunos capazes de utilizar eficientemente os diversos tipos de auxílios audiovisuais durante uma instrução. Como seria esta aula se o instrutor fizesse uso apenas da palavra para a consecução do seu objetivo, sem a necessária demonstração? Temos aqui, uma inadequação da técnica. Como vimos, todos os caminhos utilizáveis para que sejam reduzidos os problemas de ensino-aprendizagem levam à necessidade do uso da técnica adequada. Pode ser dito, sem leviandade, que é mais importante a técnica usada pelo instrutor do que a cultura que ele tem. De nada adiantará ser um “expert” no assunto se ele não conseguir transmiti-lo.

Existem diversas técnicas, embora nenhuma possa ser apontada como melhor do que a outra. Deverão, tão somente, ser aplicadas visando à maior eficácia em alcançar os objetivos propostos. Abaixo estão listados as técnicas mais utilizadas na instrução aérea:

TÉCNICA EXPOSITIVA

Consiste na apresentação oral de um assunto pelo professor. Bastante tradicional, é a mais utilizada, sem sombras de dúvida, em quaisquer cursos.

Críticas são constantemente feitas a esta técnica. Entretanto, caso bem utilizada, isolada, ou em conjunto com outras, atinge plenamente os objetivos que se deseja alcançar através dela.

Uma aula expositiva, uma conferência ou outras formas de apresentação de ideias poderão ter grande receptividade caso não se transformem apenas em monólogos por parte do expositor.

A aula, por exemplo, deve ser fundamentada em certos parâmetros teóricos que a tornam, pode ser dito, “arrumada”, visando principalmente a um perfeito acompanhamento pelo aluno.

Juntadas a técnica expositiva outras técnicas, fazendo-se o uso correto de recursos sensoriais, difícil será uma crítica à apresentação de qualquer assunto que tenha como suporte o recurso da voz.

TÉCNICA DO DITADO

Apesar de bastante utilizada, pouco proveito traz a quem é dirigida. Consiste em o instrutor falar pausadamente enquanto os alunos tomam nota de suas palavras.

Facilmente se percebe que, enquanto escrevem cadenciadamente, os alunos pouco percebem da mensagem a eles destinada. Não conseguem, inclusive, acompanhar o sequenciamento lógico das ideias, pois a preocupação naquele instante é tão somente não perder as palavras pronunciadas pelo instrutor.

Deve ser compreendido que, nem sempre, o ditado se apresenta abertamente como tal. Muitas vezes o modo de o expositor se expressar induz os alunos à colocação, no papel, das palavras “ipsis-litteris” como enunciadas. Tal fato ocorre constantemente em relação àquelas disciplinas que não estão baseadas em uma fonte bibliográfica, ou em que o material de consulta a apoiá-las é de difícil acesso.

TÉCNICA DO INTERROGATÓRIO

É a técnica que utiliza a pergunta como ferramenta. Serve para incentivar a turma, para obrigá-la a refletir, para trazer à realidade os alunos mais distraídos ou desinteressados. Serve, ainda, como instrumento disciplinador, como auxílio à verificação da aprendizagem. Movimenta uma aula, possibilita o instrutor conhecer melhor os seus alunos, ajuda a fixar o que foi apresentado em classe e conduz o raciocínio dos educandos.

A pergunta é uma das principais vigas sobre a qual deve apoiar-se o ensino. Exige, entretanto, algumas normas para um correto emprego.

Devem ser evitadas questões cujas respostas possam ser “sim” ou “não”. Caso tais respostas apareçam, devem as mesmas ser justificadas através de um “por que”. As perguntas devem ser complicadas. Devem ser dirigidas à turma em geral (pergunta geral) para obrigar à reflexão por parte da totalidade dos ouvintes. Somente após, deverá ser dirigida a um só aluno (pergunta direta). Excetua-se o caso da pergunta destinada a disciplinar, que será feita apenas àqueles a quem se deseja atingir.

Esta técnica pode ser utilizada como preparatória antes de uma instrução aérea.

TÉCNICA DE DEMONSTRAÇÃO

Tem como objetivo provar ou mostrar, de maneira prática, o que já havia sido exposto de maneira teórica. Traz, em princípio, grande credibilidade ao que o professor já tenha apenas mencionado, em ocasião anterior.

Demonstrações não são somente aquelas realizadas com instrumentos complicados ou materiais de difícil aquisição. Podem ser feitas através da lógica, por meio da exposição, do encaminhamento de fatos, pela criação de fenômenos físico-químicos, etc.

Podem ser divididas em quatro diferentes tipos:

•             Demonstração Intelectual: Utilizam analogias, raciocínio indutivo e dedutivo etc. A

demonstração de um teorema é exemplo característico.

•             Demonstração Experimental: Como o próprio nome diz, é aquela feita através de experiências. Na formação de um médico, de um químico ou de um psicólogo, por exemplo, em suas fazes práticas, são utilizadas experiências com seres humanos, animais e produtos químicos.

•             Demonstração Documentária: Realizada através de documentos, antigos ou atuais. O estudo da evolução de uma língua, através da modificação e criação de palavras, baseia-se neste tipo de demonstração.

•             Demonstração Operacional: Utiliza normalmente aparelhos, máquinas e instru- mentos em funcionamento. Na formação de um aviador deve-se, forçosamente, utilizar a demonstração operacional, que prevê, basicamente, a execução de tarefas.

Técnica de Trabalho em Grupo

Esta técnica consiste na discussão de um problema por grupos de até oito alunos, liderados por um deles. Permite ampla troca de ideias entre os componentes do grupo e a possibilidade de ser obtido um resultado final de alto nível através do somatório de conhecimentos e experiências individuais.

Exige, entretanto, homogeneidade dos participantes, um alto grau de coesão, conhecimentos teóricos e treinamento na técnica, com a finalidade de evitarem-se distorções quanto à participação nos trabalhos, liderança, etc.

Esta técnica não deve ser confundida com outras onde também são utilizados processo de dinâmica de grupo, como o painel, os seminários, as assembleias, etc.

Técnica do Seminário

Os próprios alunos, orientados quando necessário pelo instrutor e divididos em grupos, executam um trabalho de pesquisa sobre um assunto pré-determinado.

Terminada a pesquisa e feita a montagem final das conclusões encontradas, um ou

mais representantes do grupo deverão expor o tema tratado ao da turma.

Um assunto poderá ser também subdividido em vários temas, tendo cada grupo por obrigação pesquisar a parte que lhe foi designada. Ao final da etapa de pesquisas, representantes dos diversos grupos divulgarão os resultados a que chegaram.

Esta técnica exige trabalhos individuais de estudos e trabalhos de grupo para junção

de dados esparsos, redação final das pesquisas, montagem da exposição etc.

Técnica do Debate

Efetiva-se através da defesa de pontos de vista entre expositores ou entre um ou mais expositores e alunos.

Presta-se ao estudo de temas controvertidos sobre os quais não existem ainda uma perfeita ideia formada.

Os expositores poderão ser convidados que nunca tiveram qualquer contato com a turma, ou poderão, também, ser alunos que defendam diferentes ideias.

A técnica do debate, no caso de serem utilizados apenas os instrumentos, deve ser aproveitada pelo instrutor para, em fase anterior, incentivar trabalhos de grupo que:

•             definirão caminhos a seguir na defesa das teses;

•             indicarão um ou mais representantes de cada grupo como debatedor.

O debate pode, ainda, ser realizado sempre que a técnica expositiva de apresentação estiver sendo utilizada como técnica básica.

Técnica da Entrevista Didática

É uma técnica que, pela quebra de rotina da tradicional exposição, traz grande interesse àqueles que estão sendo submetidos ao processo de aprendizagem. Consiste, como o próprio termo sugere, na entrevista de um “expert” em determinado assunto por um ou mais instrutores ou alunos.

Seu sucesso depende, entretanto, da escolha do entrevistado, da prévia preparação da entrevista propriamente dita e do correto emprego da técnica pelo entrevistador.

O entrevistador deve, obviamente, ter experiência em expressar-se perante o público, pois, caso contrário, haverá o risco de encontrar uma pessoa monossilábica, que pouco acrescentará em termos de conhecimento. A entrevista deve ter sido bem preparada; as perguntas, se não construídas em conjunto com o entrevistado, pelo menos a ele

mostradas em tempo hábil para evitarem-se surpresas desagradáveis, o entrevistador deverá ter algum conhecimento do assunto em pauta, devendo aproveitar todas as oportunidades surgidas para mais facilmente atingir o objetivo desejável.

Técnica do Painel

Esta técnica apresenta diversas variantes. Basicamente consiste em uma reunião de três a cinco “experts” em um assunto para que, perante os alunos, troquem ideias sobre esse assunto. Os painelistas poderão também ser os próprios educandos que, preparados de antemão, exponham os seus pontos de vista sobre o que pesquisaram.

O painel deve ser informal, não podendo haver exposições sob forma de discurso, leitura, etc.

O instrutor exercerá a função de coordenador, procurando, evitar fugas ao tema, pedindo esclarecimentos, sintetizando ideias, etc.

A técnica deverá, acima de tudo, fluir espontaneamente.

Enfim, o professor deve ser um aliado na construção do indivíduo – aluno e não

simplesmente, um transmissor de disciplinas.

Início

Rolar para cima