INTRODUÇÃO
A instrução aérea, por suas peculiaridades, depende em alto grau da interação instrutor-aluno e da percepção correta dos comportamentos esperados. Como diz David K. Berbo: “O homem que defende suas mensagens, alegando serem completamente objetivas, que pede privilégio especial alegando ser contendor imparcial, não pré-disposto, esse homem deve ser considerado suspeito. Ou é ingênuo na análise das funções da linguagem, na descrição da realidade física, ou é desonesto na declaração do seu propósito”.
Com o objetivo de tornar a instrução mais eficaz, veremos neste capítulo a necessidade da adequada relação instrutor-aluno, bem como a melhor maneira para a eliminação dos fatores que influenciam de maneira negativa a percepção das atividades relativas à instrução aérea.
INTERAÇÃO SOCIAL
A vida atual vem se automatizando de maneira veloz e atordoante, confundindo as pessoas, fazendo a personalidade se ressentir de uma orientação social. A relação instrutor-aluno vem se arrastando nessa carência de tempo e orientação. A geração que se forma vê-se na contingência de sofrer as mesmas consequências dessas deficiências, a menos que busque encontrar uma maneira que venha a corrigir, ou mesmo evitar, possíveis desvios.
O homem é um ser social que, em busca do significado da vida e de orientação encontra os problemas de auto-realização. Esta auto-realização não depende somente de si mas basicamente da interação com outros. Para nos conhecermos e podermos ser nós mesmos, precisamos viver e trabalhar com outras pessoas.
Assim sendo, o Instrutor de Voo deve estar identificado com os problemas de auto-realização dos seus alunos, especialmente pelos desafios que a atividade aérea impõe.
O estudo das interações sociais constituem um passo para a auto-realização e conhecimento do ser humano, com suas particularidades e vicissitudes (dificuldades, revezes), fatores primordiais. Para que sejam estudadas as relações interpessoais devemos lembrar dois fatores de total relevância, que estão sempre presentes: a atitude humana e a interação social. Praticar uma relação interpessoal é mais que um contato entre pessoas; é uma atitude, um estado de espírito que deve prevalecer no estabelecimento e na manutenção dos contatos entre seres humanos. O instrutor deve estar condicionado a manter atitudes que ajudem a compreender as outras pessoas, respeitando a sua personalidade e nunca se esquecendo das diferenças individuais. Quais seriam então essas atitudes?
- As atitudes como bons preditores de comportamentos – se sabemos que o nosso aluno gosta também de surf por exemplo, será fácil prever que este lerá a seção de esportes dos jornais e que não estará tão motivado para o vôo numa tarde de “boas ondas”.
- As atitudes como base de uma série de situações sociais importantes – as relações de amizade e de conflito.
Vistas as atitudes do instrutor para o relacionamento humano, vamos analisar a interação social, que é onde os fatores comportamentais deverão ser notados, procedendo-se, perfeitamente ao necessário ajuste para que seja atingido o objetivo; a busca da auto-realização do nosso aluno.
FATORES COMPORTAMENTAIS
Dependência e Interdependência
Numa relação interpessoal, destaca-se uma situação comportamental chamada dependência e interdependência. Entende-se por dependência a influência sobre outra ou outras pessoas, sem que estas exerçam influência sobre elas mesmas. Por exemplo: a dependência de um aluno com seu instrutor pode prejudicar seu vôo solo. Já a relação de interdependência envolve um comportamento recíproco. Nesta situação, dois comportamentos manifestam-se naturalmente: os de colaboração e competição. Por exemplo, se numa situação de instrução com várias aeronaves no tráfego mantivermos a ordem e os acertos préestabelecidos, estaremos concorrendo para uma instrução segura e ordeira, que resultarão em benefício de todos (colaboração). Porém, se houver quem queira tirar vantagem sobre os outros para realizar um maior número de pousos resultando num prejuízo para os demais, criar-se á uma competição. Um outro exemplo de competição é quando aluno e instrutor disputam (até inconscientemente), quem executará melhor a manobra.
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
Sentir-se bem quisto ou rejeitado produz considerável influência no comportamento humano. A atração ou repulsão afetiva influenciará numa série de comportamentos sociais, tais como a imitação e a agressão, o exercício do poder, a formação de grupos, a percepção social, etc.
Dificilmente nos mantemos efetivamente neutros em relação às pessoas com quem entramos em contato. Da mesma forma não é comum que os outros expressem sentimentos de neutralidade afetiva em relação a nós. Gostamos muito ou pouco, amamos, odiamos, desgostamos também.
TENDÊNCIA A ASSOCIAÇÃO COM OUTROS
No decorrer de nossas vidas tendemos a nos associar com outras pessoas para satisfazermos nossas necessidades básicas, procurando divertimento por instinto ou por aprendizagem, para que tais pessoas possibilitem a avaliação de nossas habilidades e opiniões quando em estado de ansiedade, etc.
AGRESSÃO E VIOLÊNCIA
Nos tópicos anteriores tratamos de situações interpessoais caracterizadas por um movimento em direção às pessoas. Infelizmente agressão e violência constituem também fenômenos comportamentais de relevância única e sua ocorrência parece não sofrer a menor atenuação com o passar dos anos. Alguns psicólogos e filósofos defendem a posição de que o comportamento agressivo tem origem no instinto agressivo, de que o homem possui uma agressividade inata.
Outros defendem que o comportamento agressivo é fruto de aprendizagem, que a aprendizagem é o fator responsável pela formação da personalidade agressiva. Exemplo: a criança que consegue tudo com comportamento agressivo e complacência dos pais tenderá a fazê-lo com mais freqüência.
ALTRUÍSMO
Qualquer comportamento cuja finalidade é causar bem a outrem sem expectativa de retribuição. É a qualidade mais desejada num instrutor. O comportamento altruísta recebe menos atenção e sensacionalismo que os de agressão e violência; os atos altruístas aumentam com o amadurecimento do homem. Mesmo entre animais verifica-se o comportamento altruísta quando a fêmea sacrifica-se para salvar a vida de seus filhotes.
PERCEPÇÃO SOCIAL
O ser humano, inconscientemente percebe no próximo aquilo que lhe interessa. Percebemos qualidades nas pessoas que gostamos e defeitos naquelas que não gostamos. O estudo da percepção é fundamental para a instrução aérea.
A PERCEPÇÃO
Cada ser humano vive em seu próprio mundo. Esse mundo representa tudo aquilo que foi vivenciado:
o que percebe, sente, pensa, imagina. E o que percebe, sente e imagina está subordinado ao ambiente físico e social em que vive e à natureza biológica, seu sistemas nervoso. Seu mundo pessoal é diferente de outros porque seu sistema nervoso e seu ambiente físico e social são únicos. Por isso é interessante conhecer
um pouco o que vem a ser percepção e como ele pode influenciar o processo de interação social. Perceber é conhecer através dos sentidos objetos e situações. Formas de percepção:
Seletividade perceptiva: só percebo um determinado conjunto de estímulos (só percebemos aquilo que queremos perceber ou acreditar).
Experiência prévia produz predisposição para responder rapidamente, pois há familiaridade. Condicionamento: comportamento reforçado ou esperado. Ex: guinar para esquerda, aplicar pedal direito.
Fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo (instinto). Ex: fome = comida.
Defesa perceptiva: reação defensiva. Ex: cara chato = distância.
O homem age de acordo com o que percebe e uma percepção errada pode acarretar prejuízo em suas ações. Em trabalho de grupo isso é mais evidente e deve-se tomar mais cuidado, especialmente se for líder de um. A mesma informação pode ser interpretada de várias maneiras; os estímulos podem ser recebidos
diferentemente:
- Não se pautar em impressões, instituições, etc; pois nem sempre a percepção do estímulo está isenta de influência.
- Conhecer seu próprio padrão de julgamento.
- Ouvir outras pessoas para comparar com suas opiniões.
- Ter flexibilidade de pensamento para poder alterar sua opinião. Não ser teimoso.
- Ouvir e expressar pensamentos sem reações emocionais intensas.
- Treinar a capacidade de observar sistematicamente e objetivamente.
A INSTRUÇÃO AÉREA
A instrução de vôo é uma atividade cara e por esse fato já nos impele a maximização da atividade. Para tal é necessário conhecer o elemento humano e saber como ele interage na sociedade. O instrutor deve procurar um clima que favoreça a tendência e auto-realização de seus alunos, evitando a dependência e a rejeição. Assim cabe a ele ter sempre um comportamento profissional e altruísta. A observação sistemática, procurando seguir o propósito pré-estabelecido, sem deixar de observar o
que carecer de atenção em determinada situação, é uma maneira eficiente de eliminar os erros de percepção.
A percepção é um elo importante, mas é parcialmente confiável:
- Percepção correta: comportamento adequado.
- Percepção incorreta: comportamento inadequado.
- Estímulos realistas que ajudam na tomada de decisão:
- Fato: algo que é percebido com clareza ou conhecido. Aspectos de acontecimentos físicos.
- Comprovado.
- Julgamento: sentenças que salientam o sentido conotativo. Não diz sobre acontecimentos físicos
- e sim sobre a realidade social. É subjetivo e padece de erros.
- Suposição: antecipação de um acontecimento que poderá ser ou não confirmado. Preconceito.
- Boato: dar muita importância ao assunto deforma a realidade. Situações carregadas de
- emotividade.
Para minimizar a subjetividade é importante analisar todas as possibilidades de maneira imparcial. A utilização de instrumentos como anotações, fichas, reuniões, escalas e outros facilitam a observação sistemática.
A interação social na relação instrutor-aluno deve ser baseada no respeito e aceitação das diferenças individuais de cada um, de modo que estabeleça uma relação ensino-aprendizado de gratificação mútua e que resulte no benefício de todos.
