Voo planado

O que é o voo planado?

Antes de mais nada, vamos à definição de voo planado. Basicamente, o voo planado é o voo onde a aeronave se desloca para frente e perde altitude pois está voando sem a ajuda do motor. É um tipo de voo “silencioso”, onde aproveitamos a energia potencial acumulada pela altitude para nos mantermos no ar e avançar uma determinada distância.

Diferente do voo motorizado, o voo planado não depende do motor para se manter em movimento – isso mesmo, sem motor! E por isso ele é tão importante. Imagine estar em uma situação de emergência em que o motor para de funcionar. O conhecimento de voo planado é o que pode fazer toda a diferença para que o piloto consiga pousar em segurança. Portanto, entender esses conceitos é essencial.

Voo planado

Forças que atuam no voo planado

Antes de mais nada, vamos analisar as principais forças que atuam no voo planado.

Primeiramente temos o peso representado pela seta verde. Podemos decompor esse vetor e criar dois outros vetores, o vetor amarelo que é responsável por impulsionar o avião para frente e o vetor azul que se opõe a sustentação. Representado pelo vetor vermelho.

E como sempre, temos o arrasto, representado pela seta roxa.

Disso, duas coisas nos chamam a atenção.

  • Primeiro, a sustentação é menor do que o peso do avião. E é por isso que o avião não mais consegue manter a altitude.
  • E segundo, não há tração nesse voo. Isso é obvio, devido o avião estar voando sem o impulso oferecido pelo motor. Porém, se observarmos bem a imagem, veremos que a força que impulsiona o avião para a frente é uma componente do peso, ou seja, uma força gerada pela ação da gravidade.

Principais conceitos do voo planado

Agora, vamos detalhar os principais conceitos que determinam o desempenho do voo planado.

1. Ângulo de Planeio

Primeiro, temos o ângulo de planeio, também conhecido como ângulo de descida. Esse é o ângulo que a trajetória de voo forma com o solo enquanto a aeronave desce. Pense nisso como a inclinação com que o avião se move em direção ao solo.

Esse ângulo é importante porque ele define a eficiência com que a aeronave aproveita a altitude para avançar.

2. Razão de Planeio

E agora vamos ao próximo conceito: a razão de planeio. Esse é um ponto chave! A razão de planeio é a relação entre a distância horizontal percorrida e a perda de altitude. Ou seja, se uma aeronave tem uma razão de planeio de 10:1, isso significa que ela pode percorrer 10 metros na horizontal para cada metro que perde na vertical.

Para o piloto, esse conceito é extremamente útil para estimar até onde ele pode ir em um voo planado. Quanto maior a razão de planeio, maior a distância que a aeronave consegue percorrer. Conhecendo essa razão, o piloto consegue calcular o ponto onde poderá pousar em segurança, caso precise fazer um pouso de emergência.

3. Velocidade de melhor planeio

Essa é a velocidade ideal para alcançar a maior distância possível em voo planado. Quando estamos em voo planado, cada aeronave tem uma velocidade específica que resulta no melhor ângulo de descida. Essa é a velocidade que proporciona o maior alcance.

Por isso, é fundamental que o piloto saiba qual é essa velocidade para sua aeronave. Caso contrário, ele pode acabar descendo mais rápido do que o necessário e, assim, reduzindo a distância que poderia percorrer.

Nessa velocidade o ângulo de ataque é o que mantem a relação entre sustentação e arrasto no máximo. Caso o piloto mantenha um ângulo de ataque maior do que o ideal, mencionado acima, a velocidade e a distância planada diminuem, e o tempo e o ângulo de planeio aumentam.

Existe uma velocidade chamada Velocidade de Menor Razão de Descida que é útil quando se deseja voar o máximo de tempo planando. Quando o piloto mantém um ângulo de ataque menor do que o ideal o avião efetua uma descida mais rápida e o alcance é menor.

Principais conceitos do voo planado

4. Velocidade final

A velocidade final em um mergulho de voo descendente é a velocidade máxima atingida pela aeronave durante uma descida abrupta e controlada. Esse tipo de voo descendente pode ser necessário em manobras de emergência ou em casos específicos de treinamento, e o termo “velocidade final” refere-se à velocidade limite que o avião atinge antes que forças como a resistência do ar e a aceleração estabilizem impedindo que a velocidade aumente indefinidamente.

Durante um mergulho descendente, a aeronave ganha velocidade rapidamente devido à gravidade. No entanto, à medida que a velocidade aumenta, a resistência do ar também cresce exponencialmente, o que cria uma força oposta ao movimento da aeronave. Esse equilíbrio entre a força gravitacional que puxa a aeronave para baixo e a resistência do ar que se opõe ao avanço resulta em uma velocidade final. Ou seja, é a velocidade onde a aceleração para e a aeronave mantém uma velocidade constante de descida, sem mais aumentar sua rapidez.

É importante que o piloto tenha conhecimento das limitações da aeronave, especialmente da Velocidade Máxima de Mergulho ou Vne (“Velocity Never Exceed”), que é o limite de segurança absoluto em que uma aeronave pode operar sem risco estrutural. Ultrapassar essa velocidade coloca a aeronave em risco de danos estruturais sérios, pois o aumento da resistência pode exceder a capacidade de tolerância dos componentes da aeronave, levando a deformações ou até falhas catastróficas.

Em manobras controladas, como as de treinamento para emergências, o piloto deve monitorar cuidadosamente o velocímetro e manter a aeronave dentro dos parâmetros de segurança. A velocidade final em um mergulho é útil em treinamentos para demonstrar a importância do gerenciamento de energia e da recuperação da atitude de voo. Ela também ensina ao piloto a precisão e o controle necessários para uma descida rápida, porém segura, reforçando os limites operacionais de sua aeronave.

Velocidade final

Razão de descida

A razão de descida é um conceito fundamental na aviação, que representa a velocidade com que a aeronave perde altitude ao longo do tempo durante uma descida. Esse parâmetro é expresso normalmente em pés por minuto (ft/min) e indica o quanto a aeronave está descendo verticalmente em relação ao tempo. Em operações de voo, a razão de descida é importante para o planejamento de pousos, aproximações e também para a segurança em manobras de emergência, como o voo planado.

Para medir a razão de descida, o piloto utiliza o climb (ou variômetro). Esse instrumento é essencial no cockpit e exibe a taxa de variação de altitude da aeronave. Ele funciona medindo as mudanças na pressão atmosférica ao redor da aeronave. Conforme o avião sobe ou desce, a pressão ao redor do sensor do variômetro muda, e o instrumento traduz essas mudanças em uma leitura precisa de subida ou descida, indicada em pés por minuto.

Razão de descida

Fatores que Afetam o Voo Planado

Agora que entendemos os conceitos principais, vamos falar sobre os fatores que influenciam diretamente o voo planado. Esses fatores podem variar de acordo com a situação e com o tipo de aeronave, mas conhecer como eles agem nos ajuda a nos preparar melhor.

1. Peso da Aeronave

O peso da aeronave é o primeiro fator que influencia o voo planado. E aqui temos uma curiosidade interessante: embora o peso aumente a velocidade de planeio, ele não altera a razão de descida. Então, se aumentarmos o peso, vamos precisar de uma velocidade maior para manter o melhor planeio, mas a distância horizontal que a aeronave pode percorrer continua a mesma.

Fatores que Afetam o Voo Planado

2. Resistência Aerodinâmica

Outro fator importante é a resistência aerodinâmica. Esse é o “atrito” que a aeronave enfrenta no ar. Quanto maior a resistência, menor o desempenho de planeio. Isso significa que aeronaves com menos arrasto aerodinâmico terão um voo planado mais eficiente e conseguirão percorrer uma distância maior.

3. Condições Meteorológicas

E claro, não podemos esquecer das condições meteorológicas. O vento, por exemplo, pode impactar muito o voo planado. Um vento de cauda, ou seja, vindo de trás da aeronave, aumenta a distância que ela consegue percorrer. Por outro lado, um vento de frente reduz o alcance do planeio.

Condições Meteorológicas no voo planado

Esses fatores mostram que o voo planado é muito mais do que uma simples descida. Ele envolve uma série de variáveis que podem ser ajustadas e aproveitadas em favor do piloto.

4. Influência da altitude

O ar rarefeito das altitudes mais elevadas influencia somente na velocidade de planeio, a velocidade aerodinâmica e a razão de descida aumentam. Ou seja, em altitude o avião tem uma razão de descida maior, pois a densidade do ar é menor. O ângulo de planeio e o alcance não são afetados. A velocidade indicada também não é alterada porque o aumento da velocidade compensa a redução de densidade, fazendo com que a pressão captada pelo tubo de pitot e enviada aos instrumentos não se altere. 

Influência da altitude no voo planado

Planejamento do Voo Planado em Situações de Emergência

Agora vamos ao planejamento do voo planado em situações de emergência. Esse é o momento em que todo o conhecimento sobre voo planado se torna essencial para a segurança.

Imagine que o motor da aeronave parou. A primeira coisa a fazer é avaliar rapidamente as condições: temos um vento de frente? A aeronave está sobre uma área urbana ou há um campo próximo?

Depois disso, o piloto precisa escolher um local seguro para pouso. Em voo planado, a escolha do local de pouso é crítica. Idealmente, deve ser uma área livre de obstáculos, com uma superfície relativamente plana e, se possível, com o vento de cauda para ajudar a alcançar a maior distância.

Uma vez escolhido o ponto de pouso, é hora de calcular mentalmente se a altitude é suficiente para chegar até lá, aplicando a razão de planeio da aeronave. Aqui, o piloto coloca em prática tudo o que sabe: velocidade de planeio, controle de descida e correção de rumo.


Exemplo Prático Vamos a um exemplo prático. Imagine que você está pilotando e, a uma altitude de 2000 metros, o motor para. Com uma razão de planeio de 10:1, isso significa que você poderá percorrer cerca de 20 quilômetros em voo planado. Agora, é questão de observar o terreno e escolher o local ideal para pouso. Mantendo a velocidade de planeio ideal e controlando o ângulo de descida, você terá mais chances de fazer um pouso seguro.

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